Relatoria - 1ª. Reunião de Coordenação da Biblioteca Virtual em Saúde Brasil
Painel I - Comunicação Científica
A primeira conferência da Reunião abordou o tema "Panorama
da comunicação científica em saúde no Brasil".
O editor científico da Cadernos de Saúde Pública, Carlos
Coimbra, destacou o crescente volume de informação disponível
para atualização dos profissionais de saúde. Em suas contas,
se um médico decidir ler dois artigos por dia, no final de um ano ele
estará cerca de seis séculos atrasado em relação
à produção do mesmo período.
"Por esse motivo, os editores de revistas científicas e os responsáveis
por bibliotecas têm uma responsabilidade dobrada ao lidar com toda essa
informação", afirmou.
Os jornais científicos periódicos ainda são os veículos
mais importantes de atualização dos profissionais de saúde.
De cerca de 100 mil publicações mundiais, o Brasil é responsável
por 3%.
Desafios
Coimbra descreveu também os assuntos que, em sua opinião, devem
fazer parte de mesas de discussão de comunicação da ciência.
Entre eles está a minimização das desigualdades no acesso
à informação e na distribuição de financiamento
em pesquisa.
Aproximadamente 80% do apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) está alocado nas regiões Sul e Sudeste
do Brasil. A região Nordeste recebe 14% e a Norte 2,7%. "Poderíamos
justificar essas porcentagens alegando que há mais docentes trabalhando
nas duas primeiras regiões. Entretanto, essa filosofia gera um círculo
vicioso que impede o crescimento das outras áreas", descreveu Coimbra.
Para se ter uma idéia do absurdo representado por essa divisão,
basta observar que várias pesquisas são elaboradas no Sul do País
mesmo quando o assunto estudado é mais incidente nos estados do Norte
ou Nordeste.
Revistas científicas
Ele também destacou a importância de compreender o que é
a publicação científica nos países em desenvolvimento.
"Temos que ter em mente que não somos uma revista inglesa ou americana
já tradicionais", disse. Coimbra chamou atenção para
o fato de não existir uma política concreta sobre direitos autorais
de publicações eletrônicas. "Logo esse assunto estará
em nossas mesas", alertou.
Outro ponto que merece a atenção é a seleção
de revisores e escolha de pares. Há no Brasil, segundo Coimbra, poucos
especialistas de sub-áreas do conhecimento. Eles então ficam normalmente
sobrecarregados de trabalho, gerando problemas de ordem ética e atraso
das avaliações de artigos. "O papel do editor científico
é informar os autores. Poucos conhecem a complexidade que está
por trás do processo da publicação de estudos", concluiu.
O editor da Cadernos de Saúde Pública sugeriu a criação
de redes que estimulem a circulação de idéias entre pesquisadores
de várias regiões do País, sem a necessidade de criação
de novas revistas com poucas chances de sobreviver por mais de seis meses.
"Além disso, se faz necessário estudar profundamente as
revistas científicas brasileiras e desenvolver formas de avaliar a qualidade
e a dinâmica dessas publicações em paralelo aos critérios
de avaliação baseados no sistema ISI. Este é um indicador
importante, mas é preciso adaptar a realidade da produção
brasileira", completou Coimbra.
Fonte gratuita
A informação científica é relevante para a prática
clínica diária? Essa pergunta, na opinião do Dr. Bernardo
Garcia de Oliveira Soares, coordenador do Centro Cochrane do Brasil, é
fundamental para o profissional de saúde selecionar um programa de atualização
científica de qualidade.
O Centro realizou um levantamento com 90 médicos sobre a freqüência
com que eles tinham dúvidas terapêuticas. O resultado foi significativo:
a cada 3 pacientes atendidos, os médicos registraram 2 dúvidas.
O estudo também perguntou como os profissionais de saúde obtêm
informações atualizadas. Pela ordem de preferência aparece
em primeiro lugar "contato com os colegas", seguido de "livros"
e por último "artigos científicos". "Será
que essa é a melhor opção?", questionou Soares. Até
que ponto a opinião de um colega está livre de influências
e vieses? Como garantir que um livro esteja atualizado? De que forma manejar
a relação qualidade versus quantidade dos artigos científicos?
"Essas são questões para serem respondidas pela medicina
baseada em evidências", afirmou Soares. "A medicina baseada
em evidências busca o uso concensioso, explícito e criterioso da
melhor evidência disponível para adotar condutas na assistência
individual do paciente."
Passos para a prática da medicina baseada em evidência:
- Formulação de uma questão clínica ("a
boa questão clínica é objetiva e específica, não
é excessivamente restrita e nem excessivamente ampla", descreveu
Soares). É essa questão que vai delinear a pesquisa a ser utilizada.
Geralmente as dúvidas dos profissionais de saúde envolvem semiologia,
diagnóstico, tratamento e prognóstico;
- Avaliar a validade e relevância da evidência;
- Avaliação crítica da literatura (confiabilidade, importância,
aplicabilidade dos dados);
- Hierarquização da evidência;
- Revisões sistemáticas.
Com relação ao item 5, Sousa mostrou as diferenças de
conceito entre uma revisão sistemática e a meta análise.
"A primeira reúne de forma sistemática, avalia criticamente
e sintetiza os estudos relevantes. Considera-se o texto completo e cada revisão
dura de 12 a 34 meses. Já a meta análise é a estatística
da pesquisa."
Sousa concluiu sua apresentação explicando que a BIREME e a Cochrane
firmaram um acordo pioneiro pelo qual a biblioteca Cochrane é disponibilizada
gratuitamente a todos os usuários da Biblioteca Virtual em Saúde
no Brasil.
www.bireme.br/cochrane/
www.centrocochranedobrasil.com.br
ver apresentação
voltar
|